Escolhas

*José Soares Lima
Diz-se que era uma vez um homem que tinha dois animais de estima pessoal: um cachorro e um porco. Ao que se sabe o cachorro é o mais solidário dos quadrúpedes da terra. O que já lhe legaria uma reputação de peso. Mas não param por aí suas virtudes. É companheiro. Luta pelo seu senhor, ainda que com manifesto risco próprio. Tem ótimo humor. É o guarda fiel que nunca abandona o seu amigo, mesmo que este esteja fragilizado. Mesmo quando todos se vão. Ter a companhia de um cachorro é ter a certeza de que nunca se ficará sozinho. E ter um amigo de verdade para juntos gozar a vida e eventualmente compartilhar as dores é um luxo inefável.
Ninguém, com o senso de prudência ainda no comando, pode prescindir dessa dádiva dos céus para enfrentar os desafios constantes da vida. O cachorro é sempre um amigo verdadeiro. Um amigo verdadeiro é sempre um cão acostumado a nos acompanhar em toda travessia. Seja na luta sem vitória. Seja no choro de um sonho frustrado, que nem sempre se diz covardia. Seja no recomeçar várias vezes. Seja no acreditar que, quando menos, temos um bom amigo para dividir a dureza desses dias.
Já ninguém ignora que o porco é um fanfarão. E que blasona de valente, poderoso e amigo sem o ser. Preocupa-se apenas com sua própria porção. Ainda que de comida suja. Quer estar mordendo o tempo todo, mesmo que na lama. É barulhento. Fétido e covarde. O porco é leviano por natureza. Se a gente sangrar e perder a alegria, ele vai atrás de ração em outras cercanias. Não importa o quanto engordou sob nosso cuidado. É o seu destino suíno. Movido pelo seu instinto pantagruélico, devora tudo que se põe em seu caminho.
Lembro-me de que Shakespeare uma vez contou a história de um rei muito arrogante e estúpido. E que diante dele só prosperavam as teses e opiniões a ele favoráveis. Tinha duas filhas e uma o amava verdadeiramente. Por isso, às vezes, apontava os seus equívocos. Não tardou e ela foi banida da corte. Uma outra filha sempre o apoiou em suas sandices e, assim, foi exaltada, mas posteriormente também foi a causa da miséria do rei. Chegou um dia em que o bobo da corte lamentou a desgraça daquele rei outrora poderoso arrogante “É pena que ele envelheceu antes de ficar sábio”.
Se tivesse de desprezar um desses animais supra-referidos e abraçar o outro, aquele rei idiota escolheria o porco decerto, porque o tolo nunca sabe identificar amigos verdadeiros.
Conversando com um amigo naturalista acerca desses animais, aprendi que estes, como de resto todos os brutos, seja domesticado, seja selvático, conduzem suas ações instintivamente pela vida. É o caráter natural dos bichos. Mas gente é diferente como disse o genial compositor Geraldo Vandré. Pela razão, amiga das ciências. Pela emoção , amiga da arte, o homem não pode ser como um porco, movido exclusivamente pelos apetites naturais dos animais em geral. Aliás, comer, dormir e praticar o maravilhoso sexo não é uma virtude única dos humanos, mas de todos os animais, um daqueles sábios gregos nos ensinou isso.
Não tenciono com isso dizer que o porco é inútil ou que o cachorro é insubstituível. Nem estou tratando da teoria dos governos imaculados. Não teria vigor intelectual um texto que se insurgisse contra sua proposta original de apenas tergiversar sobre coisas de escolhas e equívocos, desprezando o bem abstrato tão caro que nos é a amizade.
Mas se um dia a memória nos resgatar, sentiremos saudades de nossos bravios amigos e tal qual o tolo que só aprende com a dor choraremos na solidão a nossa angústia e não teremos mais aquele tempo bom em que era tão fácil recomeçar.
Ninguém, com o senso de prudência ainda no comando, pode prescindir dessa dádiva dos céus para enfrentar os desafios constantes da vida. O cachorro é sempre um amigo verdadeiro. Um amigo verdadeiro é sempre um cão acostumado a nos acompanhar em toda travessia. Seja na luta sem vitória. Seja no choro de um sonho frustrado, que nem sempre se diz covardia. Seja no recomeçar várias vezes. Seja no acreditar que, quando menos, temos um bom amigo para dividir a dureza desses dias.
Já ninguém ignora que o porco é um fanfarão. E que blasona de valente, poderoso e amigo sem o ser. Preocupa-se apenas com sua própria porção. Ainda que de comida suja. Quer estar mordendo o tempo todo, mesmo que na lama. É barulhento. Fétido e covarde. O porco é leviano por natureza. Se a gente sangrar e perder a alegria, ele vai atrás de ração em outras cercanias. Não importa o quanto engordou sob nosso cuidado. É o seu destino suíno. Movido pelo seu instinto pantagruélico, devora tudo que se põe em seu caminho.
Lembro-me de que Shakespeare uma vez contou a história de um rei muito arrogante e estúpido. E que diante dele só prosperavam as teses e opiniões a ele favoráveis. Tinha duas filhas e uma o amava verdadeiramente. Por isso, às vezes, apontava os seus equívocos. Não tardou e ela foi banida da corte. Uma outra filha sempre o apoiou em suas sandices e, assim, foi exaltada, mas posteriormente também foi a causa da miséria do rei. Chegou um dia em que o bobo da corte lamentou a desgraça daquele rei outrora poderoso arrogante “É pena que ele envelheceu antes de ficar sábio”.
Se tivesse de desprezar um desses animais supra-referidos e abraçar o outro, aquele rei idiota escolheria o porco decerto, porque o tolo nunca sabe identificar amigos verdadeiros.
Conversando com um amigo naturalista acerca desses animais, aprendi que estes, como de resto todos os brutos, seja domesticado, seja selvático, conduzem suas ações instintivamente pela vida. É o caráter natural dos bichos. Mas gente é diferente como disse o genial compositor Geraldo Vandré. Pela razão, amiga das ciências. Pela emoção , amiga da arte, o homem não pode ser como um porco, movido exclusivamente pelos apetites naturais dos animais em geral. Aliás, comer, dormir e praticar o maravilhoso sexo não é uma virtude única dos humanos, mas de todos os animais, um daqueles sábios gregos nos ensinou isso.
Não tenciono com isso dizer que o porco é inútil ou que o cachorro é insubstituível. Nem estou tratando da teoria dos governos imaculados. Não teria vigor intelectual um texto que se insurgisse contra sua proposta original de apenas tergiversar sobre coisas de escolhas e equívocos, desprezando o bem abstrato tão caro que nos é a amizade.
Mas se um dia a memória nos resgatar, sentiremos saudades de nossos bravios amigos e tal qual o tolo que só aprende com a dor choraremos na solidão a nossa angústia e não teremos mais aquele tempo bom em que era tão fácil recomeçar.
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Autor: *José Soares Lima - advogado e licenciatura em letras.
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